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"Eu te vejo, irmão. Que teu espírito se junte a Eywa, teu corpo fica aqui para se tornar parte do povo." |
Recentemente, li dois textos que falavam sobre vegetarianismo e veganismo: um na visão teísta, outro na visão ateísta. Esses textos me foram indicados por um amigo blogueiro, quando comentei em um post seu sobre vegetarianismo. Não concordei muito com esses textos. O primeiro, o da visão teísta, foi escrito por um escritor mexicano de livros de ocultismo chamado Samael Aum Weor (nome verdadeiro: Victor Manuel Gómez Rodriguez). Ele é considerado entre seus adeptos o "Quinto Anjo do Apocalipse", o "Senhor do Quinto Raio", é também fundador de um movimento gnóstico e de uma igreja da mesma linha, além de um partido político. Apesar dele ser tudo isso, não sei quem é.
Em seu texto ele diz:
"Em nome da verdade, devo dizer que existe uma grande lei que se poderia denominar assim: LEI DO ETERNO TROGO-AUTOEGOCRÁTICO CÓSMICO COMUM. Tal lei tem dois fatores básicos, fundamentais: comer e ser comido. Alimentação recíproca entre todos os organismos".
Bom, nunca ouvi falar nessa "lei do eterno trogo-autoegocrático cósmico comum" (?) que não é bem explicada no texto dele, mas até que concordo, em parte, com o que ele diz no parágrafo que destaquei, pois nós comemos, e o que comemos volta à terra, que nos come de novo.
No segundo texto, o autor, um dos membros de um site administrado por professores e cientistas (segundo consta lá), em tom de pilhéria e deboche, defendia o consumo de carne com o mesmo argumento do 'mestre gnóstico' no que diz respeito à importância do consumo desse alimento para a sobrevivência do ser humano. O texto é repleto de piadinhas e gozações para com os que defendem o vegetarianismo e/ou o veganismo, seja por questões espirituais, seja por questões de estilo de vida, de crença, seja por se importarem com as causas referentes aos animais
Tanto um quanto outro podem ter alguma razão, mas daí a afirmar que, como seres onívoros, sem as propriedades da carne a gente adoece e morre... Não é bem assim.
Eu não sou qualificada para dizer se a carne é ou não insubstituível nutricionalmente, nem para falar se os vegetais são nutritivos o bastante para se dispensar a proteína animal, o que sei, sei porque li em estudos científicos, sei por me interessar por Nutrição e assuntos referentes à saúde, sei porque tenho uma Nutricionista na família, e principalmente porque conheço exemplos vivos e saudáveis de vegetarianos e veganos.
Conheço uma família inteira, de seis pessoas, o casal e quatro filhos, todos fortes, saudáveis, todos vegetarianos. O casal, vegetariano desde que se casou; os filhos, vegetarianos desde o nascimento, todos já adultos, fortes, saudáveis, inteligentes, ativos, e, detalhe: nenhum dos quatro filhos desse casal nunca tomou uma vacina , uma sequer. Isso por uma convicção dos pais. Conheço também um educador canino profissional, um rapaz de porte atlético que é vegetariano vegano convicto. Ele treina cães em domicílio, passeia profissionalmente com todo tipo de cachorro, sai com cães de tamanhos enormes nas ruas, dá aulas, vai de uma casa à outra, tem a agenda cheia. Quem olha para essas pessoas vegetarianas e/ou vegana que citei, não vê gente desnutrida, fraca, desanimada, pálida, com cara de panda, vê gente alegre, ágil, saudável, disposta, magra, e calma.
É óbvio demais que a interrupção do consumo de carne sem a devida orientação pode causar danos à saúde. Não é possível dormir onívoro e acordar vegetariano, não é simples assim. Seja o que for que leve uma pessoa a ser ou se tornar vegetariana ou vegana, é imprescindível ter orientação de um (a) nutricionista, pois é necessário atentar para as quantidades e fazer as substituições corretamente.
O CRN 3- Conselho Regional dos Nutricionistas, órgão que orienta e fiscaliza os profissionais de nutrição dos estados de São Paulo e Mato Grosso do Sul, sempre baseado em estudos e comprovação científica, obviamente, divulgou este ano seu parecer favorável às dietas vegetariana e vegana. A Secretaria da Educação de São Paulo, em novembro de 2011, introduziu cardápio vegetariano nas escolas; à merenda escolar foram introduzidos alimentos à base de proteínas de soja, em substituição à carne. Como, então, o vegetarianismo é prejudicial à saúde? Quanto ao veganisno, os nutricionistas alertam para o fato da dieta vegana requerer mais atenção do ponto de vista nutricional.
Falando agora de mim.
Não sou vegetariana, dou preferência a legumes e verduras - adoro uma verdurinha no azeite e no alho, adoro uma sopinha de legumes, um sanduíche natural, gosto de salada, mas não dispenso carne, consumo de duas a três vezes, por semana. Sinto,sim, necessidade da carne. Na verdade, sinto necessidade do
paladar da carne, do prazer de comer um bife acebolado, de ir a uma churrascaria (embora consuma pouco), e gosto também de um peito de peru, uma mortadela cortada bem fininha num pãozinho francês bem crocante, no entanto, me incomoda consumir esses alimentos. Sinceramente, não sei qual é a minha, pois ao mesmo tempo em que gosto de uma carninha, sou contra matar um animal para comer. Comer vivo? Não é isso. É que, se eu tivesse que matar pra comer, ou eu me viraria com outras coisas, ou morreria de fome.
Tenho muita pena dos animais. Alguém já leu sobre o que um animal sente na iminência de sua morte assim? Os animais são tomados de um medo terrível, o coração acelera, a adrenalina deles sobe a níveis elevadíssimos, os músculos enrijecem , são acometidos de pânico, um pânico silencioso, mas que se vê em seus olhos... Eu não posso com isso.
Os métodos usados para matar um animal que virará de tudo nessa vida são cruéis, todo mundo sabe disso. E ver um animal ser morto para virar comida é traumatizante! Quando criança, via matar galinha, torciam o pescoço dela, e depois ela ficava em agonia, estrebuchando até morrer, ou cortavam o pescoço e deixavam a bichinha lá, pendurada de cabeça pra baixo, ainda viva! Com uma bacia em baixo aparando o sangue. Que frieza! Que coisa macabra!
E quando alguém resolvia matar porco? Meu Deus! Aquilo era cruel demais! Gente sem nenhuma habilidade matando o animal aos poucos! Eu não sabia onde me esconder para não ouvir.
Quando eu ia para o litoral com meus pais ou tios, eu via na estrada homens vendendo caranguejos vivos. Eu via os bichinhos pendurados, no sol escaldante. Até hoje é assim. Eles ficam lá pendurados, horas e horas a fio. E eu sei que, na hora de prepará-los, jogam os caranguejos e lagostas vivos na água fervendo! E tem as vitelas, o carneiros, cordeiros, leitõezinhos, e leitoas... Gente, não dá. Como alguém consegue comer filhotes, fetos, matar uma vaca que está com bezerrinho na barriga, para comer a carne dela e do bezerrinho. E ainda chamam de "baby beef", são mais macios, tenros... Não basta ser carne, ter sangue, tem que ser tenro!Como conseguem comer leitão ou leitoa, vendo o leitãozinho inteirinho na mesa, com os dentes, os buracos dos olhos, ou vê-lo pendurado no açougue?! E coelho! Como podem ter coragem de matar e comer coelho?!
Não como cordeiro, vitela, cabrito, bezerro, codorna, nenhuma das chamadas "carnes exóticas": javali, cobra, jacaré... Acho que meu espírito evoluiu ao ponto de rejeitar esses tipos de carne. Não como galinha morta em casa nem em granjas (
demorou pra isso ser proibido!) não como filhotes, galetos...
Mas, ainda assim eu como carne, como frango, como peixe. E ai? Como a carne do boi que já foi morto, processado, e congelado, mas entro em conflito interior quando vejo bois e bezerros em algum noticiário ou documentário falando sobre pecuária e gado de
corte. Como a carne de frango cortada em filé, que é de um frango já morto e congelado, mas enfrento o tal conflito quando vejo no mesmo noticiário os bichinhos para serem mortos, ou já mortos e pendurados em fila em um frigorífico. Conclusão: me sinto hipócrita.
No filme Avatar, os habitantes de Pandora consideram os animais seus irmãos. Ao matarem um animal para comer, agradecem a ele por lhes "dar" o alimento da sua carne . Isso não é hipocrisia? O animal não está "dando" nada, estão tirando sua vida para comê-lo. Ainda assim há uma intenção de respeito à vida, à natureza, aos animais, o golpe é certeiro, a morte é instantânea, sem nenhum sofrimento, o que o povo de Pandora chama de 'morte limpa'.
Mas, se (ainda) consumo carne, por outro lado não uso mais nada de couro, nada de pele legítima, nada de bicho nenhum. Sei que usam animais na indústria cosmética, o que não sei é em quais dos produtos que uso tem o sacrifício de um animal, não imagino um animal sendo torturado para a fabricação de um shampoo.
E me perdoem, mas eu detesto um certo povo, um povo que come cachorro, que mantém fazendas de criação de cachorros para tirar-lhes a pele para fazer sei lá o que, roupa, bolsa! Eu passei mal na faculdade quando um colega de sala contou que viu um vídeo mostrando como eles tiram a pele desses cachorros. Tive uma crise de choro, voltei para casa passando mal e fiquei mal psicologicamente durante muito tempo. Isso não é gente, é coisa do inferno! E travesseiros de ganso, e penas de avestruz e de pavão para enfeitar pavões humanos e "musas" do carnaval que não usam nada além do bronzeado e penas nas costas!
Voltando ao assunto da carne: Eu admito, como carne pelo prazer, e não pensando na necessidade nutricional.
Todos comemos carne pelo prazer, não pela necessidade nutricional. Nesse ponto, pelo menos, não sou hipócrita.
Acredito que o fato de eu rejeitar a ideia de matar para me alimentar e de reconhecer o sacrifício do animal que morre para me alimentar indica que meu espírito caminha para uma evolução maior. Chegará o dia em que eu não comerei mais carne de espécie alguma, seja nessa existência, seja em outra, pois acredito no vegetarianismo e no veganismo como evolução.
A quem interessar, abaixo os links dos textos citados e do CRN3:
http://www.gnosisonline.org/textos-especiais/vegetarianismo-a-luz-da-gnose/ (visão teísta)
http://ceticismo.net/ (visão ateísta)
http://www.crn3.org.br/atualidades/newsletter_vis.php?cod_mail=855 (parecer do CRN)