Detesto que me roubem a solidão sem me dar em troca verdadeiramente companhia. (Friedrich Nietzsche).

sábado, 26 de maio de 2012

Como se não houvesse Hoje.





Digo no meu perfil aqui que sou aprendiz de viver.  Ao invés de me lamentar e ficar o tempo todo de  mimimi (como diz o Christian, um parceiro de blog) procuro tirar lições de tudo. Ainda que eu reclame e lastime naquele momento, depois reflito, e vejo que aprendi mais uma. No entanto, há algumas coisas que tenho certa dificuldade em aprender, e por não aprender, acabo complicando a vida. Minha filha, muito jovem, uma menina ainda, costuma me dizer que eu penso muito no amanhã, que eu deveria viver o hoje, no que ela tem toda razão. Alguém que me foi muito especial me disse: o futuro é um tempo que não existe. E hoje, depois de ler um texto da Simone Butterfly, do blog Borboleta Cinza, fiquei pensando, e percebi que tenho vivido também o ontem, pois me preocupo com o que fiz, com o que não fiz, com o que falei, com o que não falei... Assim, tenho vivido como se não houvesse o Hoje.
Preciso aprender, e de uma vez por todas, que meu hoje é a minha vida, o momento chave, porque meu hoje já foi meu amanhã, e será meu ontem, onde tudo ficará e continuará, cristalizado e imutável, e que estou desperdiçando vida com o irremediável e com o imprevisível.
Não posso mudar o meu ontem, não tenho o controle do meu amanhã, mas posso mudar e controlar o meu Hoje. Isso eu tenho que aprender.


Abaixo, o texto da Simone Butterfly:


Na semana, há dois dias maravilhosos com as quais nunca me preocupo. São dois dias em que não me permito sentir medo nem apreensões. E isso para mim é sagrado.
Um deles é o "ontem", com seus problemas, ansiedades, dores, sofrimentos, erros, falhas e equivocos. Ontem já passou  e se acha fora do meu alcance. Não posso desfazer nehum dos atos que pratiquei nem desdizer uma palavra que falei. Então tudo que se acha contido nesse dia, que se relaciona comigo - meus erros, tristezas e pesares - agora se encontra nas mãos do destino. assim como tem momentos ruins, tem momentos de agradáveis lembranças doces e suaves, que se apegam no coração do dia como um perfume de rosas, não tenho mais nada a ver com o ontem. O sol da manhã ainda irá nascer. Seja em meio a um esplendor rosado ou uma máscara de nuvens gotejantes.
O outro dia o qual também não me preocupo é o amanhã.  O amanhã , com todos os seus perigos, fardos e possiveis problemas , com a grande probabilidades de erros, falhas e equívocos, também se acha fora do meu alcance, como o seu falecido irmão, o ONTEM!


quarta-feira, 23 de maio de 2012

Sem sentido



Porque há  o que me invade,
assim ,vez ou outra,
e de repente... 
Porque existe alguma coisa 
cruel e deliciosa... que me faz dormir

Porque querer é sonho
Porque sonhos são retratos distorcidos
Flash backs amanhecidos 
sem nenhum sentido

Não quero o sentido
Quero sentir

Em torve-linhos turvos
Amor tecer
Amor
Ter
Ser...










segunda-feira, 21 de maio de 2012

Adele




Pode ser um modismo. Se for, é um belo modismo, um agradável modismo, um modismo que acalma, no meio de tantos modismos que irritam.
O texto abaixo é uma tradução livre que fiz da música  "Set Fire to the Rain" , da cantora inglesa, Adele.  Pra quem estiver disposto, vale a pena abrir o vídeo, e ouvir.

Atear fogo na chuva

Deixei meu coração cair. E enquanto ele caía, você apareceu, e o pegou pra você. Tudo era escuridão, eu estava acabada. E então... você me beijou, e me salvou. Minhas mãos  eram fortes, e meus joelhos,  fracos demais para estar nos seus braços sem cair aos seus pés.
Mas... Tinha uma parte de você que eu desconhecia. As coisas que você me dizia não eram verdade. E os seus jogos... você sempre ganhava. Sempre ganhava.
Mas eu incendiei a chuva, e fiquei olhando ela cair e tocar o seu rosto. E enquanto ela ardia, eu chorava, porque a ouvia gritar o seu nome.
Quando eu me deitava com você, ah, eu podia ficar parada, fechar os olhos, e sentir você comigo para sempre... Não tem nada melhor do que nós dois juntos...
Mas eu incendiei a chuva, e nos joguei nas chamas, porque senti que algo morreu. Eu sabia... sabia  que aquela seria a última vez.
Me pego ao lado da porta...  Aquele coração que você pegou está esperando por você...
Mesmo depois de tudo terminado, não posso evitar de procurar por você.


sexta-feira, 18 de maio de 2012

O Cachimbo - Final



Sou relativamente novata na blogosfera, vim para cá em dezembro de 2010. Meu primeiro blog não durou um ano. Minha imaturidade como blogueira fez com que eu me decepcionasse e excluísse o antigo blog. Alguns aqui o conheceram, e aproveito para agradecer a eles por me acompanharem aqui também.
Eu gostava do meu outro blog, e quando voltei pra cá, o trouxe de volta, mas mantenho ele oculto. Antes de excluí-lo, fiz um outro, dedicado a Edgar Allan Poe. Acabei me decepcionando mais ainda e o deixei de lado. Confesso que me arrependo de ter desistido do blog de Poe, não era importante para a blogosfera, mas era pra mim, ainda é, e decidi que vou reativá-lo. Bom, o fato é que na época eu me decepcionei, fiquei chateada, revoltada, porque via tanto blog ruim (ruim pra mim, logico) com tanta coisa sem noção, que nada acrescentava a ninguém, via esses blogs dando tanta audiência, e eu com a maior dificuldade em obter retorno. Com o tempo, fui descobrindo uma outra realidade. Blogs com tantos conteúdos legais, instrutivos, divertidos, criativos, interessantes, sensíveis, foram abandonados, tinham um ou outro, ou nenhum, comentário e muito conteúdo bom, interessante. Cheguei a deixar comentários pra ver se os donos respondiam, mas os blogs estavam às moscas mesmo. Sabe quando, nos filmes, alguém chega numa cidade e não vê uma viva alma, entra nos lugares e não tem ninguém, e fica chamando "Helloooo!...Anybody there? Anybody here?..Hellooo!..." E só ouve um vento carregando poeira? Pois é, foi mais ou menos essa a sensação que tive ao entrar nesses blogs.
Acho que fantasiei sobre a blogosfera, pensei que aqui fosse mais fácil interagir. Bem, pra mim não foi. Aqui não há tanta receptividade como imaginei. Cheguei a pensar que sou eu que não sirvo para ser blogueira. Pra falar a verdade, ainda penso.
Passado um tempo, e a decepção, resolvi tentar mais uma vez, e acabei voltando com este blog. Ainda estou meio travada, mas já sei de muita coisa sobre a blogosfera. As coisas aqui são bem mais óbvias que em outras redes, tão óbvias que muitas vezes é dificílimo enxergá-las. Mas é só prestar atenção, e foi o que passei a fazer, e passei a entender melhor o que rola aqui.
O que a pessoa faz no seu blog fala mais sobre ela do que o seu perfil, e o que ela diz no blog da gente, idem.  É óbvio, mas percebo que muita gente não vê a importância disso. É só seguir e pronto, e comentar, mesmo que praticamente com monossílabos, só pra bater ponto, só pra "retribuir", só pra ter retorno.  Não há critérios, é uma política, a política do "me segue que eu te sigo", "comenta que eu comento". O que importa são os números. Há muitos pavões, muita paparicação e puxação de saco, e muitos egos em jogo. Costumo dizer que a blogosfera é uma fogueira de vaidades (em alguns lugares, a mesma fogueira também queima bruxas...).

No entanto, é óbvio que nem toda gente é assim, seria mais coerente eu sair daqui e não voltar mais se tivesse só gente assim, mas não dá pra não notar que é o que prevalece. Tem vida inteligente aqui, tem muitos talentos, tem muita coisa boa pra se ler, para se aprender, muita gente agradável de se conhecer, independente de tema de blog. E eu gosto de conhecer gente bacana e interessante, de ler coisas que acrescentem algo e de interagir com quem tem o que dizer. Foi para isso que vim, e agora que já sei como isto aqui funciona, estou muito satisfeita.

Concluindo o tema do óbvio, o óbvio  na blogosfera é o mesmo de todo lugar habitado por gente, não tem como ser diferente. Eu é que demorei um pouco pra enxergar.
O pintor surrealista belga René Magritte pintou  um cachimbo e escreveu embaixo: "Isto não é um cachimbo".  Escreveu aquilo para provocar a reflexão nas pessoas, porque, como diz um provérbio oriental, "o óbvio é a verdade mais difícil de se enxergar". É óbvio que não é um cachimbo, é o desenho de um cachimbo.






quinta-feira, 17 de maio de 2012

O cachimbo - Inicio





No final do mês passado iniciei um projeto que me absorveu muito. Depois, meu note apresentou um problema, e fiquei um tempo sem meu companheiro, e sem conectar. Aí, comecei a pensar na minha vida na internet, a lembrar de como comecei a interagir em sites de relacionamento, hoje chamados de redes sociais. Acabei por sentir saudade do agonizante Orkut. Lá eu participava ativamente de comunidades, principalmente as literárias, a interação era maior, o contato virtual era mais, digamos, próximo, e, o melhor de tudo, não havia essa vaidade, essa fixação que há  na blogosfera por "seguidores" e comentários, todos estavam ali apenas para dar sua contribuição, ou para saber mais.  O Orkut está megapassado, e se você insiste em manter um perfil lá, as pessoas riem da sua cara, ou olham pra você como se estivessem vendo um dinossauro, uma múmia, um fóssil, e você se sente uma atração de museu de Ciência. Por um motivo muito pessoal, acabei excluindo de vez o meu perfil - não era a primeira vez, mas o motivo era basicamente  o mesmo. Tempos depois, me sentindo pressionada pela "modernidade", ingressei no Twitter, e  depois, fiz um perfil no Facebook, "Face", para os íntimos.  Imagine, se até o fundador do Orkut, o Orkut Büyükkökten (ô nome difícil de digitar!) tem uma conta no FB, com 455 amigos...!
Parecia, ainda parece, que se você não tem Twitter nem conta no FB, você não existe. Tenho Facebook e Twitter, logo existo. Porém... se você não posta a todo instante, ou não curte, ou não cutuca, ou não twíta, ou não dá um RT, ou não sei lá o que mais, você não existe, logo, eu não existo
Acho que gente como eu não se dá muito bem nessas redes sociais. O FB  não tem muito a ver comigo, ou sou eu que não tenho a ver com ele?  Também estou inativa no Twitter, prolixa como sou, não tenho o que dizer em míseros cento e quarenta caracteres.  No FB, vejo as atualizações no assunto do e-mail:  fulana postou uma foto bla bla bla..., Sicrano postou um vídeo... Beltrana postou fotos de viagem... Recebo e-mail me dizendo que tenho atualizações pendentes, e que tem gente querendo ser meu amigo no FB.  Essa é a minha vida no "Face". A verdade é que não consigo me interessar, não vejo a importância daquilo, da maioria das coisas que postam (há exceções, claro), e não vejo porque postar meus passos ali, ou postar no FB tudo quanto é mensagem, ou vídeo, whatever...  O que acontece comigo? Estou começando a considerar a hipótese de RG baixo...
Eu gostava sim, do Orkut, ali as coisas eram mais organizadas (deve ser RG baixo mesmo...), mas estar no século vinte e um é  dizer "siga-me do Twitter" ou "visite meu perfil no Facebook" , até que outra rede apareça para desbancar a de Zuckerberg, como ele desbancou a do Orkut. E se for assim, estou mesmo no meu adorado século dezenove, porque eu não tenho saco pra essas coisas.  E foi assim que inventei de vir pra cá, para a tal blogosfera.



(continua)


Imagem : obra de  René Magritte , pintor belga surrealista (1898-1967)




segunda-feira, 14 de maio de 2012

Um domingo, uma olhada no passado




Tento não me esquecer de que é só mais um domingo. Nada mais que só mais um domingo. Me atenho ao apelo comercial do dia, um dia de shopping lotado, de flores  a preços absurdos nas floriculturas e esquinas, de gente à beça nas lojas de eletroeletrônicos, de celulares, de perfumes, de chocolates, e mães cozinhando, felizes, desde a véspera, para receber os filhos, genros, noras, netos,  que almoçam, se esparramam no sofá para ver o jogo, bagunçam a casa, e vão embora. Claro que as mães adoram ver toda a sua família reunida na mesa desse domingo. Têm prazer em cozinhar para todos. Será mesmo?... Não deveria ser um dia de sossego para as mães? Bom, enfim...
Eu mesma fui à casa da minha segunda mãe -  é uma bobagem, mas a palavra 'madrasta' soa tão... maléfico, como se as madrastas fossem todas bruxas que envenenam maçãs ou que forçam a enteada a trabalhar pesado enquanto elas ficam de boa. Que tosco. É, eu fui lá, como em todos os anos, para o almoço de dias das mães, para a feijoada light que ela sabe fazer como ninguém. E ela faz questão de fazer um almoço nesse dia e de nos chamar, a mim e à minha irmã (ela não teve filhos com meu pai). Eu nem vou pelo almoço, iria mesmo que não tivesse almoço, vou para lhe dar um abraço, ficar perto, para conversar, porque raramente vou vê-la, o que é uma enorme falta, eu sei.
Confesso aqui uma coisa que percebo em mim : tenho uma certa revolta com isso de não ter mãe. Bom, 'revolta' pode parecer coisa de adolescente problemático, mas não é esse tipo de revolta, nem é uma revolta que prejudique, nem sei se é revolta, é um sentimento estranho... Ah, sei lá. Não que minha madrasta não mereça meu carinho, ela merece sim, e muito, faz de tudo, de tudo mesmo,  pra mim e para minha irmã, pra mim principalmente, é muito bondosa, e ela tem todo o meu carinho, todo o meu afeto, toda minha gratidão, mesmo eu não indo visitá-la com mais frequência.  Mas...  não sei, falta algo... um algo... Algo que tem a ver com... chamar de mãe.
Minha mãe se foi quando eu era criança, eu praticamente a vi morrer, nos braços do meu pai, numa madrugada fria de agosto.  Não estou fazendo drama, sei que não sou a única no mundo que perdeu a mãe ainda criança, imagine,  também não se trata de autocomiseração, só estou dizendo como aconteceu. Mas, então, apesar de ser criança na época, eu me lembro bem dela: alta, pele clara, cabelos pretos, magra, elegante, bonita, exatamente como... as mulheres de Edgar Allan Poe. Morreu jovem, como as mulheres de  Edgar Allan Poe...
Me lembro de muitas passagens, passagens alegres e tristes, mas, infelizmente, me lembro mais de passagens tristes. Com certeza teve muitas passagens alegres, mas acho que eu era bem mais criança, e a maioria minha memória não registrou. Quero mencionar aqui apenas uma das passagens de que me lembro, que dá uma ideia da natureza da minha mãe: me lembro de, numa tarde, ter visto minha mãe ajoelhada em frente a uma imagem, e havia uma vela acesa ao lado da imagem. Ela estava com nossa cachorrinha, Lady, no colo. A Lady tinha ingerido veneno de rato, estava muito doente, estava morrendo. Alguém, talvez um veterinário, não me lembro, tinha explicado a ação do veneno no organismo dos ratos, e ela soube como a Lady estava sofrendo, e não havia esperança. Minha mãe pedia com tanto fervor para a santa não deixar a Lady morrer, para não deixá-la sofrer... No dia seguinte, a Lady estava bem esperta, e nos dias seguintes, se curou totalmente, viveu até após a morte da minha mãe, alguns anos depois. Não sei o que foi aquilo, sei que aconteceu.
Eu queria muito ter estado com minha mãe durante a doença dela, queria muito não ter deixado ela sozinha e no escuro, eu era criança, estava brincando na rua, meu pai ainda ia chegar do trabalho, e eu a deixei só, escureceu , e ela na cama, não podia levantar... Sinto um imenso remorso por isso, nossa, como me arrependo disso!... Eu era criança, mas sinto culpa, e vivo pensando que é mesmo pra eu sentir culpa, porque, se não fosse, eu não lembraria desse ocorrido. Não que eu pense nisso as vinte e quatro horas do dia, mas, num dia como ontem, por exemplo, eu penso. A vida nos ensina, e boa parte do material didático são as nossas próprias ações. Há os que aprendem, há os que nunca aprendem. Sempre aprendo com meus erros. Nunca mais deixarei alguém sozinho no escuro.
Essas são  algumas das muitas coisas de que me lembro, e de que jamais me esquecerei.
De vez em quando me pego pensando: ... como teria sido a minha adolescência com minha mãe? Como teria sido me tornar uma mulher tendo ela comigo? Como teriam sido todas as minhas fases com ela presente? E as fases dela comigo? Será que eu ia poder falar abertamente com ela sobre todos os assuntos? Será que seríamos amigas? Isso eu acho que sim, porque me lembro que ela ajudava minha prima, sobrinha do meu pai, e procurava acertar as coisas  nas brigas do meu pai com a irmã mais nova dele, que veio morar conosco e arrumou um namorado de quem meu pai não gostava, achava que ele era um aproveitador, aquelas coisas...
Será que riríamos juntas? Que iríamos ao cinema juntas? Que discutiríamos? Discutiríamos muito ou pouco?...

São coisas que nunca vou saber.  Fosse como fosse, se ela pudesse ter ficado mais um tempo, acho que teria sido bem legal.

Será que quando a gente se for também, a gente vai reencontrar quem a gente amava?

Vou visitar mais a minha segunda mãe, estarei mais presente.