Eu sei que o que vou dizer aqui pode afetar algumas pessoas, pois é um assunto até delicado, considerando que ninguém gosta de ouvir sermões sobre tal assunto. Minha intenção está longe de dar sermões ou lições. Só quero manifestar meu pensamento a respeito. Pensamento esse que muita gente pode achar que é frescura. Espero que não me achem antipática, ou "fresca", mas se tenho este espaço, vou usá-lo pra isso também, pra dizer o que penso.
O tema nada tem de poético.
Estou sem carro há um bom tempo, ando de metrô e ônibus. E vejo nesses transportes públicos que as pessoas perderam completamente a noção de comedimento, higiene e inconveniência. Vejo gente comendo salgadinhos de pacote, os porcaritos da vida, com as mãos que acabaram de segurar em corremãos de escadas, em barras do metro e dos ônibus, e em dinheiro. Vejo gente comendo batata frita na hora (vendidas nos terminais de ônibus) com bastante queijo ralado, e catchup, e sei lá mais o que por cima. Só de ver já passo mal! Agora, imaginem-se dentro de um ônibus ou vagão de metrô, em horário de pico, com alguém do seu lado, ou atrás, ou na frente, ou mesmo lá no fundo, com um pacote de salgadinho de queijo ou de cebola, ou uma bandeja de isopor de batata frita em óleo diesel (o óleo é tão escuro que parece óleo de caminhão...), com queijo ralado e catchup, imaginem o cheiro disso tudo ali dentro. Sinto meu pobre fígado se contorcer!
Já vi um homem entrando no ônibus com uma pizza, uma pizza inteira, na caixa, e que a pizza era de calabresa com cebola, disso ninguém alí teve dúvidas. Vi outro entrando com um espetinho de carne, cheio de farofa. Também já vi uma garota comendo um sanduíche do McDonald's dentro do cinema. Dentro do cinema!
Uma amiga pediatra, que trabalha em posto de saúde, me disse que para examinar a garganta das crianças tem que pedir para as mães irem ao banheiro lavar a boca dos filhos, porque as bocas estão tão cheias de farelo de salgadinho (que eles devoram na espera) que é impossível ver qualquer coisa lá dentro.
Coisa comum de se ver também é adolescentes entornando uma garrafa de dois litros de coca cola. E depois vem um fatídico e sonoro arroto.
E pegando o gancho disso tudo, muito se tem falado em obesidade e nas doenças que vêm no pacote, mas quantos realmente se preocupam com isso? Quem liga pra gordura trans? Que, por não ser uma gordura natural, só é processada em parte pelo organismo, e o resto fica lá, acumulando e entupindo. Quem se preocupa com gorduras saturadas ou com altos teores de sódio? Quem se dá ao trabalho de ler a tabela nutricional, que, aliás, é obrigatória nas embalagens? E o exagero de açúcar? E quando é acrescido do exagero de gordura é ainda mais maléfico. Um dia vi um homem no restaurante pedindo uma feijoada e uma fanta uva. Como alguém consegue comer feijoada tomando fanta uva eu não sei. Mas, enfim... Detalhe: ele era obeso..
Um sanduíche ou batata do McDonald's podem permanecer inalterados por um ano ou mais, mesmo sem refrigeração. É só fazer o teste. E o povo come isso. Imaginem só! É gostoso? É. Mas, convenhamos, quem tem amor à sua saúde e à vida não pode se "alimentar"disso, substituir uma refeição por um lanche, ainda mais dessas redes. Comida saudável tem aqui, e muita. A ironia é que o lixo do Brasil é o mais nutritivo do mundo. Todos os dias joga-se toneladas de alimento no lixo, frutas, verduras e legumes.
Desafortunadamente somos um país que não sabe administrar seu dinheiro e não sabe se alimentar. Os índices de inadimplência e de obesidade estão aí para mostrar. Essa política da comida é no mínimo equivocada, pra não dizer populista. O brasileiro nunca comeu tanto, mas nunca comeu tão mal. As estatíscas apontam um índice de obesidade maior do que o de desnutrição.
Vivo dizendo que deveriam ser instituídas duas matérias obrigatórias nas escolas públicas e privadas: Educação Financeira e Educação Alimentar. Do dinheiro a gente fala em outra hora. Educação Alimentar já! Porque povo bem nutrido é povo saudável, procura menos o sistema público de saúde, que assim pode melhorar muito.
Pensamento exposto, me resta comer (direito) e rezar, porque amar tá difícil!...