Detesto que me roubem a solidão sem me dar em troca verdadeiramente companhia. (Friedrich Nietzsche).

domingo, 7 de outubro de 2012

Edgar


Em 7 de outubro de 1849, morreu Edgar Allan Poe, três meses antes de completar quarenta e um anos de idade.
Todos que leem este blog sabem da minha admiração e predileção por esse escritor norte americano, que não é, como muitos acreditam, mero autor de contos de terror. Edgar Allan Poe é poeta, prosista, ensaísta e crítico literário; é, por assim dizer o "inventor" dos contos policiais, pioneiro na ficção científica, um teórico das "shorts stories", e mestre no gênero. Aproveito o post para convidar meus parceiros e a  todos os que leem minhas divagações para conhecerem meu blog A Extraordinária História de Edgar Allan Poe  http://eapoeeoutrashistorias.blogspot.com.br/, que hoje estou reativando.

O poema abaixo é de minha autoria, composto no ano passado em homenagem ao escritor, e  faz referência à sua obra mais conhecida e mais traduzida, o poema "O Corvo" (The Raven).


Edgar, the alone poet


Em uma meia noite
De um quarto algures
Onde Luzes de velas
Criam sombras vivas,
A pena do Poeta
Desliza
Sobre folha quieta.

E eis que ouve
Esse Poeta
Em sua  porta
Asas Negras
De desesperança
Trazendo
Trágicas lembranças
Da amada morta.

O pobre Poeta
Amargurado,
Fraco, entristecido,
Abre a porta,
Dá abrigo,
Tira da noite
Fria e escura
Aquela criatura
Que lhe traz
A certeza de que
Jaz
Entre  hostes celestiais
Seu anjo amado,
Lenora...

O ingrato pássaro negro
Repetindo seu refrão
Fere como a fogo
Fundo o coração
Daquele Poeta
Que amaldiçoa:
Maldita ave que negreja!
Vai-te!
Voa!

Mas o pássaro da negritude
Sem outra atitude,
Sobre o busto de Atena
Permaneceu
A professar  sua cantilena

E eu,
Em toda noite fria,
Em toda meia noite
Escura e fria,
Penso naquele Poeta,
Onde estaria,
Se em seu quarto
Com seus Ais,
Ou se Poeta, Nunca Mais...


                                                           

                                                         *********


(...)

Fez-se então o ar mais denso, como cheio dum incenso
Que anjos dessem, cujos leves passos soam musicais.
"Maldito!", a mim disse, "deu-te Deus, por anjos concedeu-te
O esquecimento. Toma-o, esquece com teus ais,
O nome da que não esqueces, e que faz esses teus ais!"

Disse o corvo, "Nunca mais".

E o corvo, na noite infinda, está ainda, está ainda
No alvo busto de Atena que há por sobre os meus umbrais.
Seu olhar tem a medonha cor de um demônio que sonha,
E a luz lança-lhe a tristonha sombra no chão há mais e mais,
Libertar-se-á... nunca mais!
(versos finais do poema O Corvo, na tradução de Fernando Pessoa)

27 comentários:

  1. Com certeza de onde ele está, sorriu de felicidade e agradecimento.
    Belíssima homenagem.
    Parabéns!!!
    Beijos!!!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Eu me sentiria uma privilegiada se de onde ele está pudesse saber o quanto o admiro.

      Obrigada,Janice!

      beijo.

      Excluir
  2. Um ex namorado me deu um livro dele. Não lembro o nome. Na verdade nem li. Acabou o namoro e o livro ficou lá. Relapsa eu né.
    Belo poema.
    Bjos

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. rss... Não sei se você gosta de contos de mistério, rs. Na verdade, Cristina (no Adoráveis Psicoses te chamo de Cristina, no Caminhos Internos te chamo de Patrícia... rs), os livros são coletâneas de contos, antologias, contos escolhidos a critério pessoal do autor da coletânea ou da editora, porque Poe só escreveu contos, poesias e ensaios, e os publicava em jornais. Conto é bom, porque a leitura é rápida, experimente ler um deles, nesse seu livro deve ter A Queda da Casa de Usher, é um dos melhores, o meu segundo preferido, rs.

      Se ex namorado está de parabéns, rs

      beijo!

      Excluir
  3. Não conhecia a poesia de Edgar Allan Poe. Muito boa.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. A poesia dele é maravilhosa, poesia gótica romântica.

      Bom que gostou, Gilberto.

      Excluir
  4. Eu, mesmo sendo trágico para poetizar e comentar poemas, gosto muito de lê-los, principalmente quando pessoas poetizam de modo que difere um pouco dos demais, sem aquele romantismo típico e beirando o mórbido, o gótico. Muito legal.
    Já estou seguindo o seu blogue e, se o Blogger cooperar (algo que não tem feito muito comigo ultimamente), incluirei no blogroll do Lisérgicos.

    => CLIQUE => Escritos Lisérgicos...

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Oi Christian, não sei se entendi: você não gosta de poesia com romantismo típico e que beira o mórbido, o gótico, ou não gosta de poesia com romantismo típico mas gosta da que beira o móbido, o gótico? Eu acho que é a segunda, porque você gosta do gótico... Enfim, ... rs

      Esse poema, O Corvo, é uma poesia gótica, mas é também romântica, e fala de morte. Poe falava muito em morte, deve ser pela história dele. Eu sou bem suspeita pra falar de Poe, e qdo começo, sei que fico chata, vira aula, palestra, sei lá... rs.

      Te vi lá no Edgar... rs Vamos falar bastante de Poe e de literatura lá. Vi a Pandora também.

      Excluir
  5. "NEVER MORE"... parece-me definitivo demais... dá vontade de chorar, né amiga Ligéia?

    Abração
    Jan

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. É exatamente o definitivo o centro do poema de Poe, Jan. É esse o desespero do narrador, definitivo demais...
      O poema, na verdade, é um conto em forma de poesia. Vou postá-lo ainda no blog Edgar Allan Poe.

      um beijo.

      Excluir
    2. Sabe Ligéia, tive a mesma sensação de impotência diante do definitivo, no enterro do meu pai...

      Outrossim, como minha xará (Janice Adja), tampouco eu consegui usar as "carinhas". Mas já sei que é melhor ignorá-las;-)

      Excluir
  6. Oi Ligeia
    Eu assisti há muito tempo atrás o filme sobre o escritor. Adorei o poema, não sabia que vc era poetisa também. Parabéns!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Ou, Lu. Existem alguns filmes baseados nos contos de Poe, a maioria deles de um diretor chamado Roger Corman, estes são muito fracos, deturpam a obra original de uma forma grotesta, chegam a ponto de ridicularizá-la. Não acho um trabalho sério. Mas fizeram uns melhores, que respeitam mais a obra dele.

      Eu brinco de ser poeta, rs...

      Obrigada, Lu.

      Um beijo!

      Excluir
  7. Ligéia, Voltei para reler o poema que tanto gostei.
    Vejo que você é mesmo fã. Um amor incondicional. Adorei o poema.
    Parabéns!!! Muito bom.
    beijos!!!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Oi, Janice, nhaa que fofa... rs Adorei que você gostou. Você sim, que é poeta de verdade, e vindo de você é um elogio e tanto!

      Muito Obrigada.

      beijo!

      Excluir
  8. Não consegui usar as carinhas. Como fazer??
    Beijos!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Olha, Janice, e se eu te disser que tbm não sei como usar?!!...
      Coloquei esse recurso aí, mas não consigo nem fazer funcionar e nem excluir. Pra excluir tem que editar em HTML, e é muito chato, e eu sou meio lesada pra isso, tenho medo de excluir a coisa errada...

      Qdo eu descobrir como se usa, te falo... rs

      beijo!

      Excluir
  9. Machado de Assis, Fernando Pessoa e cordelistas, já vi esses três tipos de tradução para o poema de Poe, adorei seus versos Ligéia me lembrou um comentário que um amigo meu fez em um texto sobre corvos que escrevi a algum tempo atrás.

    Deixo o link, talvez vc curta: http://emquantos.blogspot.com.br/2012/08/sobre-corvos.html?showComment=1345042978919#c2221156386181833472

    Ah, já fui lá conferir seu blog, adorei!!!

    Tava com saudades daqui!!! Super cheros Ligéia!!!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Pandora, essas duas traduções que você citou são as mais conhecidas, tem a de Miltom Amado, que tbm é muito bonita, e outras mais que conheço. Penso em postar fragmentos delas no blog do Poe. Uma vez vi uma tradução em cordel, e achei muito interessante, gostei mesmo, mas foi só uma parte, eu gostaria muito de ler umas traduções em cordel na íntegra. Se você puder me enviar uma, ou me dizer onde encontrar na internet, eu agradeço muito.

      Vi você lá no Edgar... Obrigada. Agora você vai conhecer um pouco melhor essa minha paixão literária. Espero que goste.
      Eu ando em falta nos blogs amigos, e tenho visto seu meme pelo painel, me dá comichão de comentar, porque, acho que você já conhece um pouquinho de mim, o tema é uma coisa que adoro. Só que, não sei se você já reparou... não sei escrever pouco, então deixo para uma hora mais tranquila. Logo eu vou lá, quero muito comentar todos os dias do meme!

      Obrigada pelo carinho, Pandora. Gosto muito qdo vem aqui, já te falei isso? rs

      Super cheros! rs..

      Excluir
    2. Relaxe Ligéia, sem pressa, você será sempre bem vinda em minha Caixa independente de quando chegue então sinta-se a vontade com seu tempo.

      Ah, cá está a tradução de José Lira, o cordelista que falei, aqui tenho o texto impresso, mas achei ele também na net.

      http://www.jornaldepoesia.jor.br/1jlira.html#raven

      Excluir
    3. Ah, legal! Obrigada, Pandora, e eu não esqueci de ir no Em Quantos ver a postagem Sobre Corvos, estou bem curiosa!, rs.

      Um beijo!

      Excluir
  10. Gostei demais de visitar o seu outro blog. Conhecia muito pouco de Edgar Allan Poe, achei interessantíssimo aprender um pouco mais. Inclusive vc despertou minha curiosidade sobre sua obra. Foi bastante válido para mim!

    ResponderExcluir
  11. Fiquei feliz, Moiselle, por ter visitado o blog de Poe, mas muito mais pelo seu interesse pela obra dele, que sei ser sincero, o que é muito válido para mim. :)

    Obrigada.

    ResponderExcluir
  12. Olá Ligéia,
    Adorei conhecer este autor,seu texto parece que tem vida, você escreve tão bem que fiquei super curiosa para saber e conhecer mais. Adoro poemas que mexem com a emoção.
    Estou indo lá conhecer seu blog. Beijinhos.

    ResponderExcluir
  13. Você não sabe como me deixa feliz, Verinha, por ter gostado de conhecê-lo. Acredito que você irá gostar ainda mais quando conhecer a história trágica dele, trágica e ao tempo bela, e sua obra, seus contos, sua poesia. Vou enfatizar os contos lá no blog, espero que você goste.

    Obrigada pelos elogios ao texto, Verinha.

    um beijo!

    ResponderExcluir
  14. Olá, Ligéia.
    Nunca tinha lida nada do Poe até hoje; assim como Mary Sheley, Júlio Verne e H. G. Wels, Poe ajudou a criar (involuntariamente) a estética steampunk, que eu acho bem divertida.
    Eu não sabia que o Roger Corman tinha feito adaptações da obra de Poe, o que sei sobre ele é que ele é reconhecido coo o rei dos filmes B (o filme dele do Quarteto Fantástico, de 94, custou um milhão de dólares para ser feito e dois para se impedir sua divulgação).
    Abraço.

    ResponderExcluir
  15. Jacques, Roger Corman dirigiu uns oito filmes, por perto disso, em que ele "se baseia" em contos de Poe. Até aí, acho válido, mas, para mim que conheço boa parte da obra de Poe, tais filmes são extremamente fracos e longe da essência da obra, que é séria, de fundo psicológico, sem aquele clima de terror barato que têm esses filmes de Corman. Não falo de livre adaptação, falo da maneira absurda com a qual ele abordou as histórias; não sei qual foi a intenção dele, não sei que ideia ele tinha da obra para fazer isso. Ele tinha um ator ótimo, Vincent Price, que, mesmo sendo considerado canastrão por muita gente, poderia ser melhor dirigido e ter feito um bom trabalho nesses filmes, aliás, é ele quem os salva, por muito pouco. Edgar Alan Poe é um importantíssimo representante da literatura mundial, um clássico da literatura norte americana, haja visto que a literatura norte americana daquele século(XIX)não tem tantos representantes de peso, e sua obra merecia mais respeito por parte do Roger Corman. Quem assiste aos filmes, tem uma ideia totalmente deturpada da obra de Poe.
    Mesmo assim, gostei de ver tais filmes, porque já conhecia os contos, então, não me influenciou negativamente, ao contrário, me fez ver melhor a sua importância, e o filme que mais achei próximo da obra original foi Solar Maldito, adaptação de Corman para o conto A Queda da Casa de Usher.
    Dá uma passada no meu blog Edgar Allan Poe e outras histórias, para conhecer.


    Um abraço, Jacques.

    ResponderExcluir

Costumo responder aos comentários aqui no blog. Todas as opiniões são bem vindas, e importantes. Gosto de saber das pessoas o que pensam, o que sentem, o que gostam. Você que lê e prefere não se manifestar, quem sabe um dia volte para me dizer algo. Não tenho pressa, eu espero.

Divagar é preciso...