Detesto que me roubem a solidão sem me dar em troca verdadeiramente companhia. (Friedrich Nietzsche).

domingo, 30 de dezembro de 2012

Feliz Ano Velho





Quando eu era criança, tinha pena do Ano Velho. Me lembro de como eu ficava triste quando ouvia aquela musiquinha dando adeus tão alegremente, aquele adeus tão animado (minha ideia de adeus já era outra), me parecia injusto demais com o pobre velhinho (não sei porque eu o imaginava um velhinho...) . Coitado, só porque ficou velho tem que ser desprezado?  Era meio assim que eu sentia.
Eu quase podia ver o Ano Velho se retirando em meio aos fogos da meia noite, olhando para trás, para aquela festa toda, ouvindo aquele coro de "adeus ano velho" e pensando:  nossa... será que fui tão ruim assim? 

Sou sempre grata ao Ano Velho. Entra ano e sai ano ele me deixa lições, me lembra que não nasci só para rir nem só para chorar, me fortifica com momentos bons e momentos críticos, me mostra a dimensão da minha força e da minha vontade com as coisas que consegui e com as que não realizei, me premia pelos acertos, me ensina com os erros. Aprendo um ano inteiro com ele, amadureço um ano inteiro com ele, e o melhor de tudo, é que ele sempre me deixa mais uma oportunidade de realizar o que eu não consegui realizar enquanto ele passava.

Por outro lado, sempre adorei a festa de boas vindas ao Ano Novo. A expectativa de sua chegada espana os ânimos, troca as cortinas, tira do armário a louça guardada, as toalhas brancas guardadas, dá a tudo um frescor de coisa nova, aquece o forno e a alma e renova as esperanças; mas nem por isso desprezo o Ano Velho, velho conhecido. 
O Ano Novo vem feito político recém eleito, cheio de promessas de emagrecer, de parar de fumar, de realizar sonhos e de  por  em prática velhos projetos de vida. É nesse total desconhecido que depositamos todas as nossas esperanças de renovação e mudanças. Ninguém sabe o que ele será capaz de fazer, mas a gente sente que ele fará só coisas boas, nos abraçamos acreditando que as alegrias serão de todos, é só querer...  Por alguma razão precisamos dessa sensação de vida nova todos os anos nas vésperas de um ano novo, e nos seus primeiros dias, enquanto não nos lembramos de que ele sozinho não pode cumprir suas promessas e antes dele se tornar velho e de tudo voltar a ser velho e o de sempre.

Eu, muito particularmente, não comemoro o ano novo, dou as boas vindas a ele, porque, para mim, comemorar  ano novo é o mesmo que comemorar o futuro; eu comemoro o ano que terminou, mais um ano de tantas coisas vividas, de tantas perdas e ganhos, de tantas batalhas vencidas e de derrotas também, e sobrevivi a tudo, de tantas novas lições,  mais um ano em que estou perto de quem amo.

Bom, este texto é uma despedida, e já está muito longo para alguém que detesta despedidas longas...  

Digo adeus a você, Ano Velho, mas te agradeço. Obrigada por todas as experiências e por todos os ensinamentos, por eu estar perto de quem amo, e por eu estar aqui, escrevendo estas bobagens.

Bem vindo Ano Novo (como diz uma tia, "Ano Bom"), que você seja bom mesmo para todos, que nos dê, não só as mesmas oportunidades que por algum motivo perdemos, mas muitas outras.

Eu? Vou continuar não entendendo... Vou continuar com este inconformismo... Vou ver os fogos da sacada  e experimentar de novo aquela estranha e inexplicável sensação de "algo novo" no ar...


Cheers!!






Agradecimento: Agradeço a Marcelo Rubens Paiva por ter tido (antes) a ideia do título deste post.

("Feliz Ano Velho", livro de Marcelo Rubens Paiva, 1982)

18 comentários:

  1. Eu não costumo dizer adeus, apenas participo da festa. Adoro uma cervejinha gelada, assim cada vez que tomo uma e acordo no outro dia é como se fosse tudo novo. rsrsrsrsr
    Um ano nove de muita paz.
    Beijos!!!

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    1. Pensando bem, você está certa, dizer adeus ao ano velho não é legal mesmo, certas coisas que ocorreram no ano que termina ainda podem refletir no ano que começa, rs.
      Ai, sabe que também adoro uma cervejinha bem gelada? Você sabe viver, Janice, parabéns.

      beijo!



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  2. Que bela e merecida exaltação ao bom e velho ano!
    Nestes tempos é tanta ansiedade pelo novo, que parece que temos que sair jogando tudo fora, no lixo, no fogo.
    A tua pena pueril te fez aprender com ele, dar as boas vindas e dividir conosco este lindo texto.
    Feliz ano velho.
    Beijo

    ladodeforadocoracao.blogspot.com

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    1. Muito obrigada, Ana Paula.

      Nesta época, final de ano, as pessoas não dão importância alguma a duas coisas : o aniversariante de 25 de dezembro, e o ano que termina. A coisa gira em torno de papai noel e do ano novo, dois desconhecidos, pior, um ainda não existe, o outro nunca existiu.
      Feliz 2013 para você.

      um beijo.

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    1. Obrigada, Antonio. Sei que estou te "devendo", não nego, rs, me perdoe, aos poucos estou liquidando todas as minhas dívidas aqui.

      Feliz 2013 para você também,muita felicidade, paz, saúde e inspiração.

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  4. Mais um ano se acaba, mas ainda bem que vem outro cheio de grandes esperanças para todos nós. Desejo tudo de bom a você, Ligeia, que é uma pessoa que eu adoro mesmo sem conhecer pessoalmente. Abraços.

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    1. Gilberto, te agradeço imensamente o carinho que tem comigo, eu disse que te admiro e repito aqui, te admiro pela sua força , pela sua alegria de viver, pelo olhar com que você olha a vida e as pessoas, pela sua simplicidade, tudo isso você mostra no que escreve. Claro, não nos conhecemos, nos conhecemos só daqui, mas aqui não tem como enganar por muito tempo, porque a gente é o que a gente escreve.

      um grande abraço pra você, um mais que feliz 2013, um 2013 perfeito!

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  5. Foi feliz, o ano velho.
    Seja feliz, ano novo.

    É Ligéia, o Tempo (dividido em anos) traz, em si, a FELICIDADE... cabe a cada um de nós estender para buscá-la a cada dia (365 vezes)... é cansativo, então a cada final de dezembro, comemoramos (respiramos profundamente...) e começamos de novo.

    Eu também não comemoro... apenas respiro profundamente e vejo tudo pela TV... acho lindo!
    Ah..dou um apoio moral pros meus cachorros (que ficam ASSUSTADÍSSIMOS ;-)!

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    1. Isso mesmo, Jan, você retratou muito bem o que eu penso também sobre a passagem do tempo em relação à vida. Paramos, respiramos, e continuamos. Perfeito.

      Meus cachorrinhos latem muito, mas medo mesmo eles não têm, morro de pena dos cachorros com medo dos fogos. Eles não sabem onde se esconder, não sabem pra onde ir, ficam desesperados, é uma judiação.

      um beijo, Jan.

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  6. Ligéia, eu li este livro quando era criança e lembro do quanto me impressionou. Fiquei dias pensando nele, por saber ser uma história verídica e como, de algum modo, mesmo não passando pelo sofrimento que o autor passou, pude sentir a vontade de voltar no tempo que ele sentiu ao pensar o quanto foi feliz aquele ano velho...
    E neste post você também relata um sentimento da infância em imaginar o ano como um velhinho sendo rejeitado, penso que desde cedo você já filosofava a respeito da situação dos idosos, o que me remeteu ao post que escreveu este ano, o qual não me lembro o nome, que discorria sobre situações nas "casas de repouso".
    Eu parei de me importar, fazer balanços de final de ano. Antes, creio que por causa dos costumes das minhas famílias, eu tinha este hábito e acabei por perceber que me cobrava muito.
    Hoje vejo o dia 31 como um dia que fecha 365 dias que passaram, porém, que também me mostra o horizonte de 365 dias que terei adiante para concretizar o que ainda não deu tempo.
    Tento ver as coisas com mais realismo, nem pessimista e nem otimista demais, com a consciência que grande parte dependerá apenas de mim e outra parte, são circunstâncias que a vida nos coloca e não tem como fugir das mesmas. O que acaba também, dependendo de mim, afinal, o modo com que lidarei com elas é que fará (ou não) a diferença nestes dias.
    Sua despedida de ano na blogosfera foi longa (não tão longa quanto a minha, rs) e filosófica, penso que neste ponto literalmente divagamos bastante e acabou saindo algo produtivo. Acho. rs.
    Parceira, meu retorno à blogosfera se dará muito provavelmente apenas no dia 02 e, como este é meu último dia / noite online, não poderia deixar de passar por aqui para agradecer a parceria que teve comigo neste 2012 e desejar um Feliz Ano Velho e Novo para você.
    Que em 2013 possa continuar oferecendo seus escritos e suas visitas e comentários, ao seu modo, em seu ritmo, respeitando sempre isto.
    Até lá!

    => CLIQUE => ESCRITOS LISÉRGICOS...

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    1. A vida do Marcelo Rubens Paiva, a quem tive o prazer de conhecer, se transformou completamente depois daquela fatalidade , e ele teve que ser muito forte pra não sucumbir, psicologicamente falando. No caso dele, o ano velho foi melhor que o novo.
      Sobre o "velhinho", parei pra pensar e me lembrei de algo, acho que eu via o ano velho assim porque vi algum desenho em algum lugar, que retratava o ano velho como um velhinho... rs.
      Eu também não faço balanços, nem tomo resoluções de fim de ano, mas planejo algumas coisas, não dá pra evitar aquela sensação de um "tempo novo", o efeito é psicológico, mas dá um "up"... rs.


      E vamos continuar essa parceira, ano novo, posts novos! ;)

      Até!



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  7. Quanto ao texto do Felisberto, ele está offline, foi postado somente no Facebook e eu pedi autorização para usá-lo.
    Eu tinha quase certeza que estava me despedindo daqui de 2012 faltando algo pra dizer.

    => CLIQUE => ESCRITOS LISÉRGICOS...

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  8. Que engraçado o que vc disse sobre ter pena do ano velho quando era criança. Eu também sentia algo mais ou menos assim... ler seu post me deu uma certa nostalgia.
    Atualmente não acho nada de especial na virada do ano. No entanto, sinto um pouco a energia renovada, porque isso está no insconsciente coletivo: todos acreditam que podem começar de novo, como se lhes fosse dada nova oportunidade. Isso de certa forma passa para as outras pessoas e acaba refletindo em mim. Mas eu, particularmente, não acho nada.
    Feliz 2013 então, rs..

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    1. Ah eu ficava com pena mesmo, acho que vi em algum lugar uma imagem de um velhinho representando o ano velho e aquilo me marcou. Gostei de saber que você sentia algo parecido,achei legal, rs.
      Eu entendo você. Gosto da festa de ano novo, na verdade, gosto mais é dos dias que antecedem a festa, gosto do clima de novidade que o ano novo trás, mas depois td passa, porque td volta ao que sempre foi, a vida não quer saber se o ano é novo.

      Feliz 2013 pra nós Moiselle, que tudo se realize conforme o esperado, pelo menos, rs.




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  9. Ligéia, é preciso olhar pra trás e ver o que de bom(ou até ruim) aconteceu. É graças ao velho que temos o novo...

    Aproveito e desejo que seu ano de 2013 seja um sucesso! Que possamos continuar nos comunicando durante o ano que está chegando.

    bjks

    JoicySorciere => CLIQUE => Blog Umas e outras...

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    1. Exatamente, Joicy, é isso o que penso, o que vivemos no ano velho, pode refletir no ano novo.Vamos aproveitar o que foi bom e deixar no passado o que foi ruim.
      Sucesso para todos nós, e muita comunicação e troca aqui na blogosfera neste ano de 2013 também.

      um beijo.

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Costumo responder aos comentários aqui no blog. Todas as opiniões são bem vindas, e importantes. Gosto de saber das pessoas o que pensam, o que sentem, o que gostam. Você que lê e prefere não se manifestar, quem sabe um dia volte para me dizer algo. Não tenho pressa, eu espero.

Divagar é preciso...