Detesto que me roubem a solidão sem me dar em troca verdadeiramente companhia. (Friedrich Nietzsche).

quinta-feira, 29 de março de 2012

A gente não quer só comida...


Eu sei que o que vou dizer aqui pode afetar algumas pessoas, pois é um assunto até delicado, considerando que ninguém gosta de ouvir sermões sobre tal assunto. Minha intenção está longe de dar sermões ou lições. Só quero manifestar meu pensamento a respeito. Pensamento esse que muita gente pode achar que é frescura. Espero que não me achem antipática, ou "fresca", mas se tenho este espaço, vou usá-lo pra isso também, pra dizer o que penso.
O tema nada  tem de poético. 

Estou sem  carro há um bom tempo, ando de metrô e ônibus. E vejo nesses transportes públicos que as pessoas perderam completamente a noção de  comedimento, higiene e inconveniência.  Vejo gente comendo salgadinhos de pacote, os porcaritos da vida, com as mãos que acabaram de segurar em corremãos de escadas, em barras do metro e dos ônibus, e em dinheiro. Vejo gente comendo batata frita na hora (vendidas nos terminais de ônibus) com bastante queijo ralado, e catchup, e sei lá mais o que por cima. Só de ver já passo mal! Agora, imaginem-se dentro de um ônibus ou vagão de metrô, em horário de pico, com alguém do seu lado, ou atrás, ou na frente, ou mesmo lá no fundo, com um pacote de salgadinho de queijo ou de cebola, ou uma bandeja de isopor de  batata frita em óleo diesel (o óleo é tão escuro que parece óleo de caminhão...), com queijo ralado e catchup, imaginem o cheiro disso tudo ali dentro. Sinto meu pobre fígado se contorcer!
Já vi um homem entrando no ônibus com uma pizza, uma pizza inteira, na caixa, e que a pizza era de calabresa com cebola, disso ninguém alí teve dúvidas. Vi outro entrando com um espetinho de carne, cheio de farofa. Também já vi uma garota comendo um sanduíche do McDonald's dentro do cinema. Dentro do cinema!

Uma amiga pediatra, que trabalha  em posto de saúde, me disse que para examinar a garganta das crianças tem que pedir para as mães irem ao banheiro lavar a boca dos filhos, porque as bocas estão tão cheias de farelo de salgadinho (que eles devoram  na espera) que é impossível ver qualquer coisa lá dentro.
Coisa comum de se ver também é adolescentes entornando uma garrafa de dois litros de coca cola. E depois vem um fatídico e sonoro arroto.

E pegando o gancho disso tudo, muito se tem falado em obesidade e nas doenças que vêm no pacote, mas quantos realmente se preocupam com isso? Quem liga pra gordura trans? Que, por não ser uma gordura natural, só é processada em parte pelo organismo, e o resto fica lá, acumulando e entupindo. Quem se preocupa com gorduras saturadas ou com altos teores de sódio? Quem se dá ao trabalho de ler a tabela nutricional, que, aliás, é obrigatória nas embalagens? E o exagero de açúcar? E quando é acrescido do exagero de gordura é ainda mais maléfico. Um dia vi um homem no restaurante pedindo uma feijoada e uma fanta uva. Como alguém consegue comer feijoada tomando fanta uva eu não sei. Mas, enfim... Detalhe: ele era obeso..
Um sanduíche ou batata do McDonald's podem permanecer inalterados por um ano ou mais, mesmo sem refrigeração. É só fazer o teste. E o povo come isso. Imaginem só! É gostoso? É. Mas, convenhamos, quem tem amor à sua saúde e à vida não pode se "alimentar"disso, substituir uma refeição por um lanche, ainda mais dessas redes. Comida saudável tem aqui, e muita. A ironia é que o lixo do Brasil é  o mais nutritivo do mundo. Todos os dias joga-se toneladas de alimento no lixo, frutas, verduras e legumes.

Desafortunadamente somos um país que não sabe administrar seu dinheiro e não sabe se alimentar. Os índices de inadimplência e de obesidade estão aí para mostrar.  Essa  política da comida é no mínimo equivocada, pra não dizer populista. O brasileiro nunca comeu tanto, mas nunca comeu tão mal. As estatíscas apontam um índice de obesidade maior do que o de desnutrição.
Vivo dizendo que deveriam ser instituídas duas  matérias obrigatórias nas escolas públicas e privadas: Educação Financeira e Educação Alimentar. Do dinheiro a gente fala em outra hora. Educação Alimentar já!  Porque povo bem nutrido é povo  saudável, procura menos o sistema público de saúde, que assim pode melhorar muito.

Pensamento exposto, me resta comer (direito) e rezar, porque amar tá difícil!...























10 comentários:

  1. gostei do seu post, realmente o povo é muito sem noção mesmo. mas a falta de consciência é tão grande em outros aspectos que acho que praticamente ninguém NUNCA vai pensar sobre isso... tipo: quanto mais salgadinho no busão, melhoooor! entende? é uma falta de educação sim, e vc fez seu desabafo (que foi bem engraçado por sinal). Tirando a fanta uva, tô contigo e não abro! (nunca experimentei com feijoada, mas acho que beberia...haha)

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Pelo menos mantenho o humor, né? rsrs...
      Salgadinho, batata frita, espetinho... A gente tem que aguentar tudo isso (fora o som dos DJ de ônibus, com os funk da vida). Bom, enfim.
      Bem vinda ao clube dos incorfomados com tudo isso! rs... Bom saber que tem alguém que pensa como eu.

      Fanta uva com feijoada? Eita! rsrsrss... Então tá... rs

      Muito obrigada, Moiselle.

      Excluir
  2. Olá Ligéia. Primeiramente quero agradecer pela assiduidade que tem ido nos Escritos Lisérgicos e peço, por favor, continue com seus longos comentários. Comentários breves raramente me atraem, geralmente são de pessoas que não leram o post ou leram mal, somente com o intuito de receber retribuição de comentário. Por esta razão, esteja liberada para soltar o verbo, meu espaço é seu espaço.
    Sobre o post, eu devo dar a minha mão a palmatória, tenho uma grande dificuldade em manter uma alimentação saudável e eu deveria, por ordens médicas, por ser magro demais!
    Ahah, dá para acreditar? Quem vive na cerveja, chopp, nos MC, Bobs e Burguer Kings da vida não consegue engordar mais que meio quilo de vez em quando, isto porque... como muito, mas como mal. E, por não ter tendência para engordar, meu organismo acaba tendo deficiência de nutrientes essencias que estão em frutas, verduras e legumes os quais nem passo perto.
    Realmente, é bem usual vermos pessoas comendo porcarias nos transportes públicos, vi que é mais comum em cidades grandes, quando viajo para o interior, não vejo muito disto, aliás, fiquei semanas em uma cidade pequena e não vi mesmo.
    Então concluo que, talvez o que pareça para algumas pessoas uma coisa sem noção e até seja, também seja uma questão de necessidade. A vida em grandes metrópoles é realmente uma correria e pessoa por vezes não tem tempo de parar para comer, está correndo de um lado pro outro e acaba tendo que ceder a má alimentação que está disponível e em lugares inusitados para matarem a fome. Por esta razão, eu não julgo.
    Contanto, o episódio das crianças com a médica, isto sim é bem nonsense. E penso que os próprios profissionais da saúde devam conscientizar tais pessoas a respeito disto.
    A mídia fala sim, mas quem se importa com informações e campanhas? Quantas campanhas há a respeito de AIDS, DST, drogas e pessoas continuam praticando sexo sem segurança, caindo no mundo das drogas o qual estamos fartos de saber que é um caminho sem volta? Informação não falta, mas a mentalidade não muda. Eu não sei o que acontece. Se é culpa da educação, do governo ou se brasileiros (que seguem padrões norte-americanos, cujas pessoas são líderes em obesidade) são incuravelmente gente sem noção.
    Parabéns pelo texto, foi realista, contudo, bem-humorado.

    PS: Detesto Fanta Uva.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Oi Christian. Primeiramente, obrigada por não se importar com meus papiros... rs. Penso como você, comentários muito curtos muitas vezes são só para bater ponto.
      Sobre sua alimentação, nem é questão da magreza, tambem sou magra, tenho 1,64 e peso 54 quilos. A questão é isso que vc disse, a nutrição. Mas não se preocupe, não vou rezar ladainhas sobre sua alimentação, não tem cabimento. Sobre a correria nas cidades grandes, não acho que seja esse o problema.Já fui gerente de banco, matava dois leões por dia, mas a hora do almoço era sagrada. rs. Sinceramente, acho que isso é desculpa. E o que eu relatei acontece no horário da volta pra casa, e olha, sei de gente que come aquelas coisas e ainda chega em casa e janta, rs...
      Quanto à pediatra, ela sempre fala para as mães, mas elas não gostam, fazem cara feia,rs. É a mentalidade. Já ouvi gente dizer que não vai ao médico ou à nutricionista porque já sabe o que eles vão dizer...
      Acho que é uma questão de educação, sim, educação alimentar, para mudar a mentalidade desde criança. Isso teria resultado a longo prazo, muito longo mesmo, só para as gerações futuras, mas é um começo. Do jeito que está é que não pode continuar.

      Obrigada por sua presença e pelo seu excelente comentário. Gostei muito.

      Um abraço pra você.

      PS. Fanta uva é u ó!

      Excluir
  3. Eu tb já vi muita gente que pega no corrimão do ônibus e depois passa no olho, ai, dá vontade de mandar ela parar!! Imagine o quanto de bactéria ela está passando para os olhos!!
    Gente comendo? Nossa, tem demais!!
    E como vc falou ai no comentário, sobre o Funk, nossa, é incrível a auto-estima que uma pessoa dessas tem, ela dança, ela canta, como se não tivesse ninguém perto!!
    Cada palavra sua só reflete a mais pura realidade brasileira e mundial, o McDonald's está em toda parte.

    Compartilho com vc tudo isso.
    bj, ana karoline.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Verdade, Ana Karoline. As pessoas perderam a noção de tudo, até de higiene, e quando a gente fala alguma coisa, com intuito de ajudar, a gente é chamada de fresca. Tudo é frescura. O pior da ignorância é quando não querem sair dela.
      Quanto ao funk, vejo um aviso nos ônibus: "è proibido o uso de aparelhos sonoros". Bom, proibir o uso não pode, mas será que ninguém sabe o que é fone de ouvido? E nem cobrador nem motorista fala nada. E já vi gente dançando também. Como se estivessem sendo observados por algum caçador de "talentos"...
      Bom que está comigo.

      Um beijo!

      Excluir
  4. É Ligeia, realmente as pessoas estão cada vez mais desesperadas por comida e o pior é que muitas vezes a higiene não acompanha esse ato de comer, pelas coisas compradas na rua. Não gosto de comer em público. Por mais que mastiguemos direitinho, sem fazer barulho ou abrir a boca, sempre fica uma cena feia.

    ResponderExcluir
  5. Eu não tenho nenhum problema em comer em público, maso que você disse é terrível, fazer barulho, comer com a boca aberta. Felizmente, não vejo muito isso. O que vejo muito é gente palitar os dentes. E homem saindo com o palito de dente no canto da boca. E tem a incoveniência no ônibus e metrô, alí não é lugar de comer, ainda mais batata frita, pizza e churrasquinho. rss...

    Muito obrigada, Gilberto.

    Um abraço pra você.

    ResponderExcluir
  6. O brasileiro gosto de mostrar o que tem e o que não tem.
    Quando compra um som, liga em todo volume para mostrar ao bairro a qualidade(ruim) do som.
    Quando vai a uma lanchonete ou um restaurante, sai terminando de comer na rua ou palitando os dentes.
    Quando compra uma roupa tem que ir para uma festa mostrar, quando não tem festa vai para a rua armar um barraco. rsrsr,
    Faz questão de comer na rua e mastigar de boca aberta fazendo barulho para chamar atenção.
    Higiene que é bom, nem sabe se existe.
    Na Índia é muito pior. Só não devemos fazer o mesmo.
    Brasileiros, mudem de atitudes.
    Você tem toda razão.
    Beijos!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Pois é, Janice. Aqui se fala muito em educação, mas ninguém faz nada a respeito, não investem nisso, sequer valorizam os professores, preferem dar comida a emprego e dignidade, porque assim, o povo continua ignorante e votando em quem não deve.

      Obrigada.

      beijos.

      Excluir

Costumo responder aos comentários aqui no blog. Todas as opiniões são bem vindas, e importantes. Gosto de saber das pessoas o que pensam, o que sentem, o que gostam. Você que lê e prefere não se manifestar, quem sabe um dia volte para me dizer algo. Não tenho pressa, eu espero.

Divagar é preciso...